Capitães Da Areia
terça-feira, 23 de outubro de 2012
Opinião
O contexto das crianças que vivem sozinhas nas ruas, sem a ajuda de ninguém não soa familiar? Décadas se passaram e os problemas continuam nas ruas da Bahia, nas ruas do Brasil de norte a sul. É muito fácil imaginar as cenas descritas na história, pois ela se passa cotidianamente nas cidades em que vivemos, na frente dos nossos narizes que podem se aconchegar em um travesseiro ao chegar a noite. As criancas e jovens que descobrem precocemente e sem escolha a sexualidade, usam roupas roubadas, comem comida roubada, gastam o pouco dinheiro que tem e que é roubado e que choram a perca da menina que fez com que pela primeira e possivelmente única vez em suas difíceis vidas tivessem uma noção de maternidade. Jorge Amado foi até o trapiche e dormiu por noites com as crianças e adolescentes intituladas Capitães da Areia e por isso a história é incrivelmente detalhada e fascinante...
O Autor - Jorge Amado
Jorge Leal Amado de Faria, mais conhecido simplesmente como Jorge Amado, nasceu em Itabuna (BA), no dia 10 de agosto de 1912, e faleceu em Salvador (BA), no dia 6 de agosto de 2001, aos 88 anos, devido a uma parada cardiorrespiratória. Ele foi um dos mais famosos e traduzidos escritores brasileiros de todos os tempos.
Jorge Amado é o autor mais adaptado da televisão brasileira. Verdadeiros sucessos, como Tieta do Agreste, Gabriela, Cravo e Canela eTeresa Batista Cansada de Guerra, são criações suas, além de Dona Flor e Seus Dois Maridos. A obra literária de Jorge Amado conheceu inúmeras adaptações para o cinema, teatro e televisão, além de ter sido tema de escolas de samba por todo o Brasil. Seus livros foram traduzidos em 55 países, em 49 idiomas, existindo também exemplares em Braille e em fitas gravadas para cegos.
No Brasil, Jorge Amado foi superado, em número de vendas, apenas pelo escritor Paulo Coelho, mas, em seu estilo, o romance ficcional, não há quem se compare a ele. Em 1994, Amado viu sua obra ser reconhecida com o Prêmio Camões, considerado o mais importante prêmio literário destinado a homenagear um autor de língua portuguesa pelo conjunto da sua obra.
Sinopse Do Livro
Tendo
como cenário as ruas e as areias das praias de Salvador, Capitães da
Areia trata da vida de crianças sem família que viviam em um velho
armazém abandonado no cais do porto da capital baiana. Os motivos que as uniram
eram os mais variados: ficaram órfãs, foram abandonadas, ou fugiram dos abusos
e maus tratos recebidos em casa.
O
livro é dividido em três partes, porém, antes delas, existe uma sequência de
pseudo-reportagens e depoimentos, explicando que o grupo Capitães da Areia é
composto de menores abandonados e marginalizados, que aterrorizam Salvador.
A
primeira parte em si, "Sob a lua num velho trapiche abandonado",
conta algumas histórias quase independentes sobre alguns dos principais
Capitães da Areia. Eram aproximadamente cem capitães, e mais de quarenta
deles, meninos de todas as cores, entre nove e dezesseis anos, dormiam nas
ruínas do velho trapiche. Tinham como líder Pedro Bala, rapaz de quinze anos,
loiro, com uma cicatriz no rosto, e que mais tarde descobre ser filho de
um líder sindical morto durante uma greve. Bala era uma espécie de pai
para os garotos, mesmo sendo tão jovem quanto os outros. Generoso e valente, há
dez anos vagabundeava pelas ruas de Salvador, conhecendo cada palmo da cidade.
Durante
o dia, maltrapilhos, sujos e esfomeados, os meninos mostravam-se para a
sociedade, perambulando pelas ruas, fumando pontas de cigarro, mendigando
comida ou praticando pequenos furtos para poderem comer. Esse contato precoce
com a dura realidade da vida adulta fazia com que se tornassem agressivos e
desbocados.
Além
desses pequenos expedientes, os Capitães da Areia praticavam roubos maiores, o
que os tornou conhecidos, temidos e procurados pela polícia, que estava sempre
em busca do esconderijo e do chefe dos capitães. Esses meninos, se pegos,
seriam enviados para o Reformatório de Menores, visto pela sociedade como um
estabelecimento exemplar para a criança em processo de regeneração, com
trabalho, ótima comida e direito a lazer. No entanto, esta não era a opinião
dos menores infratores. Sabendo que lá estariam sujeitos a todos os tipos de
castigos e crueldades, preferiam as aflições das ruas e da areia à essa falsa
instituição.
No
dia-a-dia, o bando contava com o apoio amigo de alguns adultos. Don'Aninha, uma
mãe de santo, sempre os socorria em caso de doença ou necessidade. Além dela, o
Padre José Pedro, introduzido no grupo pelo Boa-Vida, conhecia o esconderijo
dos capitães. Aos poucos, o velho conquistou a confiança do grupo, indo com
frequência visitá-los, levando um pouco de carinho e compreensão. O pescador
Querido-de-Deus e o estivador João-de-Adão também tinham a confiança dos
meninos, que, por sua vez, não mediam esforços para recompensar esse apoio.
Um
dia, Salvador foi assolada pela epidemia de varíola. Como os pobres não tinham
acesso à vacina, muitos morriam, isolados no lazareto. Almiro, o primeiro
capitão a ser infectado, ali morreu. Já Boa-Vida teve outra sorte: saiu de lá,
andando. Dora e o irmão, Zé Fuinha, perderam os pais durante a epidemia. Ao
saber que eram filhos de bexiguentos, o povo fechava-lhes a porta na cara. Não
tendo onde ficar, os dois acabaram no trapiche, levados por João Grande e pelo
Professor.
A
segunda parte, "Noite da grande paz, da grande paz dos teus olhos",
marca a história de amor que surge quando Dora se junta ao bando. A
confusão, causada pela presença de uma menina no armazém, foi contornada por
Pedro. Os meninos aceitaram-na no grupo e, depois de algum tempo, vestida como
um deles, participava de todas as atividades e roubos do bando, tornando-se
a primeira "capitã da areia", uma mãe e irmã para todos. Pedro Bala
considerava Dora mais que uma irmã: era sua noiva. Ele, que não sabia o que era
amor, viu-se apaixonado. O que sentia era diferente dos encontros amorosos com
as negrinhas ou prostitutas no areal.
Quando
roubavam um palacete de um ricaço na ladeira de São Bento, os meninos foram
presos. Parte do grupo conseguiu fugir da delegacia, graças à intervenção de
Bala, que acabou sendo levado para o Reformatório. Ali sofreu muito, mas
conseguiu fugir. Em liberdade, preparou-se para libertar Dora. Um mês no
orfanato foi o suficiente para acabar com a alegria e a saúde da menina que,
ardendo em febre, se encontrava na enfermaria.
Após
fugirem do reformatório, Pedro, Professor e Volta-Seca invadiram o orfanato, e
saíram levando Dora consigo. Pedro Bala e Dora, então, se amaram pela
primeira vez, na areia da praia. Infelizmente, não resistindo à forte
febre, ela morreu na manhã seguinte. Don'Aninha embrulhou-a em uma toalha de
renda branca e Querido-de-Deus levou-a em seu saveiro, jogando-a em alto mar.
Pedro Bala, inconsolável e muito triste, chorou com todos a ausência de Dora,
que marcava o começo do fim para os principais membros do grupo.
A
terceira e última parte, "Canção da Bahia, canção da liberdade", vai
nos mostrando a desintegração dos capitães. Alguns anos se passaram e o
destino de cada um do grupo foi tomando rumo. Graças ao apoio de um poeta, o
Professor foi para o Rio, e já estava expondo seus quadros. Pirulito, que já
não roubava mais, entrara para uma ordem religiosa. Sem-Pernas se matou quando
fugia da polícia. Volta-Seca estava fazendo o que sempre tinha sonhado:
aliou-se ao bando de seu padrinho, Lampião, tornando-se um terrível matador de
polícia. Gato, perfeito gigolô e vigarista, deixou sua amante Dalva e foi para
Ilhéus, trapacear coronéis. Boa-Vida, tocador de violão e armador de bagunças,
pouco aparecia no trapiche. João Grande embarcou, como marinheiro, num navio de
carga do Lloyd Brasileiro.
Após
o auxílio na greve dos condutores de bonde, o bando Capitães da Areia de Pedro
Bala tornou-se uma "brigada de choque", intervindo em comícios,
greves e em lutas de classes. Assim como Pirulito, Bala havia encontrado sua
vocação. Passando a chefia do bando para Barandão, seguiu para Aracaju, onde
iria organizar outra brigada, se tornando um líder revolucionário
comunista. Anos depois, Pedro Bala, conhecido organizador de greves e perigoso
inimigo da ordem estabelecida, é perseguido pela polícia de cinco estados.
Os
Capitães da Areia são heróicos, espécies de “Robin Hood’s”, que tiram dos ricos
e guardam para si próprios (os pobres). Na história, o Comunismo é mostrado
como algo bom. No geral, as preocupações sociais dominam, mas os problemas
existenciais dos garotos os transformam em personagens únicos e corajosos,
legítimos Capitães da Areia de Salvador.
Personagens
A obra não possui um personagem principal. Para indicar um protagonista, o mais apropriado seria apontar o conjunto do bando, ou seja, os Capitães da Areia como grupo. Isso porque as ações não giram em torno de um ou de outro personagem, mas ao redor de todos. Pedro Bala, o líder do bando, não é mais importante para o enredo do que, por exemplo, o Sem-Pernas ou o Gato. Pode-se dizer que ele é o líder do bando, mas não lidera o eixo do romance. Daí a ideia de que o protagonista é o elemento coletivo, e cada membro do grupo funciona como uma parte da personalidade, uma faceta desse organismo maior que forma os Capitães da Areia.
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Pedro Bala
Líder dos Capitães da Areia com 15 anos, tem o cabelo loiro e uma cicatriz de navalha no rosto, fruto da luta em que venceu o antigo comandante do bando. É ágil, esperto, temido e respeitado por todos do grupo. Traz nos olhos e na voz a autoridade de chefe. Nunca soube de sua mãe, e seu pai, conhecido como Loiro, era estivador e liderara uma greve no porto, quando foi assassinado por policiais. Há dez anos Bala vagabundeia pelas ruas da Bahia. Ele ficou sozinho e empregou anos em conhecer a cidade. Hoje, sabe de todas as suas ruas e de todos os seus becos. Ele é quem mais se aproxima de um protagonista da história, pois serve como uma espécie de linha condutora, dando um caráter coesivo aos diversos quadros que são apresentados ao longo da narrativa.
Sem-Pernas
Deficiente físico, possui uma perna coxa. Preso e humilhado por policiais bêbados, que o obrigaram a correr em volta de uma mesa na delegacia até cair extenuado, Sem-Pernas conserva as marcas psicológicas desse episódio. Isso provocou nele um ódio irrefreável contra tudo e todos, incluindo os próprios integrantes do bando. Morre ao se jogar de um penhasco, a fim de não se entregar à polícia.
Gato
É o galã dos Capitães da Areia. Bem-vestido, domina a arte da jogatina, trapaceando, com seu baralho marcado, todos os que se aventuram numa partida contra ele. Além dos furtos e do jogo, Gato consegue dinheiro como cafetão de uma prostituta chamada Dalva, e, por isso, muitas vezes não dorme no trapiche. Só aparece ao amanhecer, quando sai com os outros para as aventuras do dia.
Professor (João José)
Intelectual do grupo, deu início às leituras depois de um assalto em que roubara alguns livros. Além de entreter os garotos, narrando as aventuras que lê, o Professor ajuda decisivamente Pedro Bala, aconselhando-o no planejamento dos assaltos. Com seu dom de pintar, acaba indo ao Rio de Janeiro tentar sucesso.
Pirulito
Garoto magro e muito alto, com olhos encovados e fundos, era o mais cruel do bando, até que, tocado pelos ensinamentos do padre José Pedro, converte-se à religião. Executa, com os demais, os roubos necessários à sobrevivência, sem jamais deixar de praticar a oração e sua fé em Deus.
Boa-Vida
O apelido traduz seu caráter indolente e sossegado. É mais um malandro da cidade, que faz sambas e canta pelas ruas, nas calçadas e nos bares. Contenta-se com pequenos furtos, o suficiente para contribuir para o bem-estar do grupo, e com algumas mulheres que não interessam mais ao Gato.
João Grande
É um negro respeitado pelo grupo em virtude de sua coragem e da grande estatura. Com 13 anos, possui cabelo crespo e baixo e músculos rígidos. Por ser uma pessoa muito boa e forte, ajuda e protege os novatos do bando contra atos tiranos praticados pelos mais velhos.
Volta Seca
Mulato sertanejo de alpargatas, é imitador de pássaros e tem ódio das autoridades. Admirador do cangaceiro Lampião, a quem chama de padrinho, Volta Seca sonha com o dia em que participará de seu bando.
Dora
Seus pais morreram, vítimas da varíola, quando tinha apenas 13 anos. É encontrada com seu irmão mais novo, Zé Fuinha, pelo Professor e por João Grande. Ao chegar ao trapiche abandonado, onde os garotos dormem, Dora quase é violentada, mas, tendo sido protegida por João Grande, o grupo a aceita, primeiro como a mãe de que todos careciam, depois como a valente mulher de Pedro Bala. Morre devido a uma forte febre, e se torna uma santa para os meninos, por causa da sua bondade. Para Pedro Bala, ela se tornara uma estrela.
Padre José Pedro
Padre de origem humilde, só conseguiu entrar para o seminário por ter sido apadrinhado pelo dono do estabelecimento onde era operário. Discriminado por não possuir a cultura nem a erudição dos colegas, demonstra uma crença religiosa sincera. Por isso, assume a missão de levar conforto espiritual às crianças abandonadas da cidade, das quais os Capitães da Areia são o grande expoente.
Querido-de-Deus
Pescador e grande capoeirista da Bahia, respeita o grupo liderado por Pedro Bala e é respeitado e admirado pelos meninos. Ensina sua arte para alguns deles e exerce grande influência sobre os garotos.
Dalva
É uma prostituta de uns trinta e cinco anos, com corpo forte e rosto cheio de sensualidade. Gato a deseja imediatamente, tornando-a sua amante.
João de Adão
Estivador, negro, muito forte e antigo grevista, é igualmente temido e amado em toda a estiva. Através dele, Pedro Bala soube do pai.
Don’Aninha
Mãe de santo, sempre socorre os meninos em caso de doença ou necessidade.
Caboclo Raimundo
Era chefe dos Capitães da Areia antes de Pedro Bala. Foi ele quem cortou o rosto de Pedro Bala, indo logo embora após isso.
Almiro
Um menino de 12 anos, gordo e preguiçoso, que morreu de bexiga.
Barandão
Foi nomeado chefe do grupo depois que Pedro Bala partiu para o grupo dos Índios Maloqueiros de Aracaju, onde tenta organizá-los como os Capitães de Areia.
Loiro
Pai de Pedro Bala, era líder sindical nas greves antigas ao lado de João de Adão. Morreu em uma dessas greves.
quinta-feira, 4 de outubro de 2012
Os Capitães da Areia
Capitães da Areia, esse é o nome dado pelo grupo liderado por Pedro Bala, um grupo de jovens abandonados e arruaceiros que aderiram ao furto para sobreviver, jovens que engenhosamente desafia as autoridades, roubando a classe privilegiada e dividindo o produto do roubo entre os seus camaradas subnutridos..
É um romance de autoria do escritor Jorge Amado, livro publicado em 1937.
É um romance de autoria do escritor Jorge Amado, livro publicado em 1937.
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